por Carlos Thompson
Talvez seja o correspondente de O Estado de S.Paulo em Paris, Andrei Netto, que passou oito dias preso, na Líbia conflagrada por uma guerra civil cruel.
Ou Marcos Uchôa, falando de Oshu para o Jornal Nacional (TV Globo), 200 quilômetros ao norte da usina nuclear e adiante de Fukushima, foco do Tsunami que infelicitou o Japão, provocando milhares de mortes, escassez de alimentos, de energia e de combustíveis em um dos mais desenvolvidos países do mundo.
Há, também, Fabiano Maisonnave, enviado da Folha de S.Paulo a Koriyama (província de Fukushima), e Roberto Kovalick, correspondente da Rede Globo na Ásia.
E muitos outros, evidentemente, pois leitores, telespectadores, ouvintes e internautas queremos saber tudo o que acontece nos palcos das grandes tragédias mundiais.
Jornalistas são os profissionais que arriscam suas vidas para informar, embora sejam humanos, logo suscetíveis de sofrer efeitos negativos da radiação de vazamentos nucleares, ou de morrer pelos tiros do exército do
tirano líbio.
Ninguém quer ficar doente, ser espancado, preso ou assassinado.
Por que, então, estas pessoas vão para os lugares de onde a maioria dos moradores fugiria, se pudesse?
Porque jornalismo não é bem aquela atividade charmosa que muitos imaginam.
É diferente do que encenam nos filmes e novelas.
Ser jornalista também é arrumar a mala às pressas rumo a um destino incerto, perigoso, insalubre, quente ou frio demais, sem a certeza de abraçar novamente namorada, amigos, filhos, marido ou esposa.
Como aconteceu com o cinegrafista da rede árabe Al Jazeera, assassinado pela forças de segurança de Muammar Kadafi.
Ainda em março, portanto no primeiro trimestre, o ano de 2011, segundo a organização Reporters Without Borders (Repórteres Sem Fronteira) já contabiliza oito jornalistas mortos e 153 em prisões ao redor do mundo – http://en.rsf.org/.
Jornalistas cometem erros, como quaisquer profissionais. Às vezes, seus equívocos destroem reputações, o que deve ser combatido por todos nós. Mas têm uma função que, em um mundo globalizado e conectado on-line, é ainda
mais importante: mostrar que as fronteiras estão nos mapas e nas gavetas de presidentes e ditadores, de primeiros-ministros e de outros interessados em patriotadas.
O mundo, na verdade, é uma coisa só, e um Tsunami no Japão, um terremoto no Haiti e conflitos sangrentos na Líbia entram nas nossas casas sem bater à porta, mesmo que estejamos distantes geograficamente.
Ver estes dramas instantaneamente, com todos seus sons e sofrimento sombrio, no mínimo deveria nos tornar mais humanos e menos egoístas. Os jornalistas estão lá para isso, mesmo que não tenham, sempre, plena noção
da relevância do que fazem. Nem deve sobrar muito tempo para teorizar sobre o tema, enquanto se protegem dos tiros ou da radiação nuclear.